A internacionalização transforma o cenário das Licenciaturas no Brasil

Formação docente alinhada deve estar alinhada aos princípios da cidadania global, da sustentabilidade e do desenvolvimento de competências para o século XXI

A formação docente no Brasil vive um momento de transformação profunda e estratégica, impulsionada pela internacionalização do Ensino Superior e pela expansão da modalidade a distância (EAD). O Censo da Educação Superior 2023, divulgado recentemente, confirma uma tendência já observada nas salas de aula virtuais e nos debates acadêmicos: as licenciaturas estão se tornando protagonistas de um novo paradigma educacional — mais conectado, mais flexível e, sobretudo, mais global.

Esse foi a linha do trabalho apresentado pela coordenadora de Qualidade e Inovação Acadêmica da Vitru Educação, Priscilla Campiolo, intitulado “O desenvolvimento de competências criativas nos cursos de licenciatura para melhorar o desempenho do Brasil no PISA”. A apresentação foi realizada durante a 30ª edição do Congresso Internacional ABED de Educação a Distância (CIAED), que segue até o dia 10 de maio, no Viasoft Experience, campus da Universidade Positivo, em Curitiba. O tema desta edição é “Internacionalização da Educação a Distância”.

Segundo ela, esse movimento não ocorre isoladamente, pois reflete uma convergência com diretrizes educacionais internacionais, promovidas por organismos como a OCDE e a UNESCO, que defendem uma formação docente alinhada aos princípios da cidadania global, da sustentabilidade e do desenvolvimento de competências para o século XXI.

“O Brasil, ao ampliar o acesso à formação docente por meio da EAD, está, de fato, respondendo a esses chamados globais.”

De acordo com o Censo da Educação Superior 2023, o Brasil registrou mais de 1,7 milhão de matrículas em cursos de licenciatura. Desse total, 67,1% concentram-se em instituições privadas — com 90% dessas matrículas realizadas na modalidade a distância (EAD).

“Esses dados evidenciam uma mudança estrutural significativa: entre 2019 e 2023, as matrículas em licenciaturas EAD cresceram 40%, consolidando o modelo digital como principal via de formação docente no país”, complementa a coordenadora.

Mas o que revelam, de fato, esses números? Para ela, o ambiente digital deixou de ser apenas uma alternativa emergencial para se consolidar como espaço legítimo e qualificado de formação.

“Essa transição é acompanhada, cada vez mais, por inovações curriculares que incorporam as diretrizes da Educação para a Cidadania Global e da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, promovidas pela UNESCO.”

A proposta dessas diretrizes, para a coordenadora, é ambiciosa:

“Preparar futuros professores para compreender e intervir em um mundo interconectado e em constante significa integrar aos currículos conteúdos sobre direitos humanos, meio ambiente, diversidade cultural, mudanças climáticas e desigualdades sociais. Significa, também, estimular e desenvolver a empatia, o pensamento crítico, o pensamento criativo e a resolução de problemas — competências essas essenciais para a atuação cidadã e profissional em escala local e global".

Transformação do sistema educacional

Esse novo olhar para a formação docente exige mais do que atualização curricular - demanda a transformação dos sistemas educacionais. Para Campiolo, é necessário revisar os materiais didáticos, investir na formação continuada dos educadores e criar ambientes de aprendizagem que acolham a diversidade e promovam a inovação.

“E a EAD tem se mostrado um terreno fértil para essas mudanças, por sua capacidade de escala, adaptação e incorporação de tecnologias educacionais de ponta.”

Portanto, a internacionalização da formação docente, conforme ela, vai além de programas de mobilidade. “Trata-se da construção de uma mentalidade aberta ao mundo, capaz de formar educadores conscientes de seu papel social e preparados para os desafios de um tempo marcado pela complexidade, interdependência e urgência ambiental”, explica.